Peça de contrafilé da raça wagyu é vendida por R$ 4,4 mil, valor equivalente ao de quatro bois inteiro
SOROCABA
- Uma peça de contrafilé bovino por R$ 4,4 mil. É o preço a pagar pelo prazer
de saborear a carne bovina mais nobre que o ser humano já experimentou. O valor
equivale ao de quatro bois inteiros, conforme as cotações mais recentes.
Trata-se
de um kobe beef produzido por bovinos da raça wagyu, típica do Japão, à venda
no Rei das Carnes, butique de cortes especiais, em Sorocaba. Para produzir
carne equiparada às mais sofisticadas iguarias, o boi japonês é tratado com
grãos selecionados e recebe até sessões de massagens. O marmoreio - quantidade
de gordura entremeada nas fibras - é medido com técnicas de ultrassonografia.
E
não falta quem pague por esse luxo. O proprietário Alder Lopes conta que tem
sido difícil manter abastecidas as gôndolas do estabelecimento. Moradores de
condomínios de luxo da região fazem fila para encomendar o churrasco
domingueiro, com picanha a R$ 555 o quilo e ancho a R$ 558.
Uma
peça com 4 kg de costela premium sai a R$ 652. O filé mignon, por estranho que
pareça, é barato se comparado a outros cortes: custa o mesmo que o t-bone, R$
250 o quilo. Carnes de segunda num boi comum, como a fraldinha e a costela do
dianteiro, no wagyu custam R$ 149 o quilo.
O
diferencial, explica Lopes, está na genética do boi, capaz de infiltrar na
carne até cinco vezes mais gordura que um bovino comum.
No
kobe beef a gordura está entremeada nas fibras, formando desenhos chamados
marmoreio. No preparo ao fogo, as gorduras derretem e se combinam com o sabor
da carne, conferindo suculência e sensação agradável ao paladar.
A
intensidade dessa mistura determina a qualidade e o valor da carne, explica
Lopes. É aí que entra o aparelho de ultrassom: o marmoreio é medido numa escala
de 1 a 12, sendo excelente, e muito mais cara, a peça com pontuação entre 8 e
12.
"O
gado criado no Brasil dificilmente atinge a pontuação máxima, por isso
trabalhamos com carne de 8 graus de marmoreio, uma média muito boa",
disse.
Para
ensinar os clientes a preparar o kobe - o nome é uma referência à cidade japonesa
de Kobe, de onde foram exportados os primeiros bovinos -, Lopes montou um ponto
de degustação ao lado da loja no Mercadão Campolim, zona sul de Sorocaba.
Numa
grelha, ele mostra como 'selar' o bife para evitar a perda do suco e permitir
que a gordura se espalhe como manteiga entre as fibras. Quando a reportagem
esteve no local, três amigos partilhavam bifes de chorizo e uma conta de quase
R$ 1 mil.
"Quem
paga R$ 700 por uma garrafa de vinho italiano, sabe o valor de uma carne como
esta", diz Lopes, referindo-se à bebida que acompanhou o repasto. A
família de Lopes trabalha com carnes há 70 anos e ele aprendeu a técnica dos
grelhados nos Estados Unidos. Lá conheceu o hamburguer de wagyu, tido como
extraordinário.
O
veterinário Bruno Chagury Salcedo, que atende o Rei das Carnes, conta que o
manejo do boi assegura a maciez dos cortes. "O animal é tratado com grãos
finos, como milho e sorgo, e é terminado em confinamento." Ele conta que o
gado wagyu é abatido apenas na idade madura, com mais de trinta meses.
No
período da terminação, o boi é massageado diariamente pelos tratadores para
garantir a melhor distribuição da gordura. "Parece lenda, mas é verdade:
para evitar o stress, os alojamentos dos bois têm sistema de som e tocam música
clássica", revela.
De
acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu
(ABCW), a presença da raça ainda é recente no Brasil - o primeiro casal pisou
em pastos brasileiros em 1992, na fazenda da japonesa Yakult, em Bragança
Paulista (SP).
A
fazenda Rubaiyat, em parceria com a japonesa e outros criadores, levou o boi
para o Mato Grosso do Sul e foi pioneira em servir o kobe beef em seus
restaurantes. As fazendas Angélica, em Americana (SP), e Bosque Belo, em
Aquidauana (MS) são outras referências na raça e em cruzamentos.
O
plantel puro atual não passa de 3,5 mil animais registrados está presente
também nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul.
Jucirley
Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário